Resenha: Memória da Água - Emmi Itäranta

Editora Galera Record
Tradutores: Liliana Negrello e Christian Schwartz
286 páginas
2015

Noria vive em um mundo desgastado por diversas guerras e falta de recursos naturais, onde a China passou a controlar a Europa e os militares controlam o bem mais precioso da antiguidade, tão escasso quanto a liberdade e a justiça.
Filha de um mestre do chá, profissão extremamente antiga e passada a cada geração, Noria está sendo treinada para tornar-se mestre também e assim substituir o seu pai. Mas como parte dos ensinamentos, é revelado a ela um grande segredo: o domínio de uma fonte natural, guardada há gerações pela família. E agora, Noria é a responsável por ela.
Só que, em um mundo cheio de destruição e segredos, o questionamento entre ajudar aos demais ou manter a si e ao seu privilégio a salvos a faz perceber que tudo vai muito além do que parece ser e, acima de tudo, que ela tem o poder de decidir seu próprio destino.

"[...] Nem tudo o que existe no mundo pertence aos humanos. Nós somos os observadores da água, mas, antes de mais nada, somos seus servos."

Esse é um daqueles livros que com muita maestria consegue fazer de um futuro distante o reflexo do nosso presente, tornando a história um ato de reflexão. Em Memória da água o mundo vive as consequências de um caos climático. O aquecimento global se concretizou, elevando de maneira extrema as temperaturas, derretendo geleiras, extinguindo o inverno, alagando porções gigantes dos continentes e reduzindo a quase zero as reservas de água doce. É nesse meio em que Noria, uma menina de dezessete anos e com certos privilégios na vida, vive.
Essa é uma distopia clássica e ao mesmo tempo diferente, onde ao invés de ver as guerras e lutas, físicas e políticas, por fins de regimes totalitários e afins, vemos a luta pela simples sobrevivência. Toda a história é fundamentada nos ensinamentos e tradições dos mestres do chá, que possuem uma relação muito próxima de sabedoria e respeito pela água e praticamente não há momentos de ação, sempre presentes nas distopias.



Tenho a forte impressão de que a intenção da autora com este livro era fazer com que o leitor olhasse ao redor e refletisse sobre o mundo que quer deixar para as gerações futuras. Muito além da história, as páginas contém diversos momentos de sabedoria que ao meu ver, mostram o quão egocêntrico o ser humano é ao achar que pode usar a natureza ao seu bel prazer.
A história tem seus pequenos momentos de clímax, mas mesmo com a tensão constante não há um acontecimento grandioso. Na verdade, todas as mudanças no rumo da história são feitas de maneira sutil.

Achei a narrativa extremamente poética ,fluída, mas pela falta de ação, pode parecer cansativa para alguns.
Se você procura uma distopia parecida com as demais, com muita ação, tecnologia e afins, não recomendo, pois vai acabar achando o livro, como posso dizer... chato, devagar. Mas se a sua vontade é por uma boa história, leia sem medo, pois esse é um livro denso que te leva a pensar em tudo.

"Não há poder que dure para sempre, Noria. Mesmo as montanhas um dia acabam sendo desgastadas pelo vento e pela chuva."

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