
Editora Intrínseca
272 páginas
2015
Pedro Diniz é um jovem
cineasta que almeja ganhar o mais importante prêmio de cinema do
país. Quando mais novo, foi diagnosticado com uma doença
degenerativa que o deixaria cego, mas contrariando a medicina, a
perda gradativa de sua visão é interrompida. Desde então, ele
dedica-se a tentar melhorar o mundo com o que chama de Cinema
Felicidade, organizando um cineclube e trabalhando na locadora de uma
periferia. Entretanto, algo abala seriamente suas perspectivas e ele
embarca em uma viagem com três amigos a fim de filmarem o filme de
suas vidas.
“Aqui começa o maior filme de todos os tempos sobre as chances que o mundo coloca na vida das pessoas. Que as lições sejam aprendidas e voltemos milhões de vezes melhores do que quando partimos. Apenas os fortes sobrevivem, porque, mesmo a estrada sendo longa, já dizia o velho poeta: 'Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”
Surpreendente! foi meu
primeiro contato com as histórias de Maurício Gomyde. Sempre vi
muitos elogios à escrita do autor, e a história de Pedro foi a
escolhida para me fazer conhecer o autor. Agora, espero poder ler
outras obras.
O livro é inusitado –
de forma positiva – em muitos sentidos. Começando pelo fato de não
existir muitas obras ficcionais que abordem a deficiência visual, e
pra falar a verdade, nenhuma me vem a cabeça no momento. E, o
protagonista, que quase ficou cego, é cineasta e dedica a vida a
passar mensagens positivas para todos, mas focando na periferia,
utilizando-se de filmes que sejam inspiradores. Além disso, seu
sonho é ganhar o prêmio Cacau de Ouro, apesar de não ter ideia de
como.
A escrita de Gomyde é
simples, direta e ao mesmo tempo, cheia de mensagens reflexivas a
cada fala dos personagens, algo que é difícil acontecer em obras
que tratem a história de forma direta. Narrada em terceira pessoa,
alguns capítulos eram curtos demais e outros em tamanho médio, o
que para mim, quebrou um pouco da fluidez da obra, ainda que não
seja um empecilho que tenha influenciado tanto na leitura.
A ideia de fazer um
filme ao longo da viagem, baseado na palavra chance e seus
significados é o grande diferencial de Surpreendente! Utilizando-se
de algumas paisagens brasileiras, o autor trata de situações de
miséria, exploração e abuso para o filme do personagem. O mais
interessante é a identificação que há com a história, já que
são coisas que acontecem no país, então é tudo muito crível e
real. Somado a isso, há inúmeras referências musicais e
cinematográficas, de filmes a atores.
Por muitas vezes,
estranhei o comportamento de Pedro e talvez por isso, não tenha me
sentido próxima a ele. De fato, é inimaginável pensar que sua
visão pode se perder, mas em determinadas partes do livro creio que
suas reações foram exageradas e um tanto melodramáticas. Ainda que
não tenha me identificado, porém, é inegável que todos os
personagens possuem ótima construção, considerando a personalidade
e no que isso influencia. Por se diferirem em uns dos outros, todos
tiveram seu espaço, não no sentido de terem seus problemas a
resolver, porque a história gira ao redor de Pedro, mas no sentido
de serem facilmente reconhecíveis e destacarem-se em suas cenas.
Surpreendente passa
inúmeras mensagens, a principal delas, sobre segundas chances. De se
permitir fazer o que antes não dava ou que antes não foi feito por
vontade, antes que seja tarde demais. Mas a mensagem que mais gosto é
sobre a cumplicidade. Apesar de Pedro ser um pouco egoísta às
vezes, todos estão lá por ele, para ajudá-lo, para apoiá-lo, para
estarem juntos em inúmeras loucuras e ótimas experiências ao longo
da viagem.
Confesso que não
esperava muito de Surpreendente! A capa é bonita e a sinopse me
chamava a atenção, mas só. Contudo, a trama me foi atraente,
contando a história de Pedro de forma agradável e bastante
otimista, que creio ser um dos principais aspectos que o diferencia
dos livros do gênero. Surpreendente é para quem quer uma história
com o lado bom das coisas, acrescido de aventura, romance e um milhão
de filmes.
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