Resenha: Véu do Diabo - Celso Possas Junior

Editora Itapuca
2017
216 páginas

Em 2011, aos 18 anos, Ernesto virou Vivi. Dizia que o que era não tinha nome, nem podia ser definido e era uma pessoa chia de sonhos, objetivos e possibilidades. Até ser brutalmente assassinada. Três anos depois, o pai de Vivi contrata o detetive Palhares. A mamãe da garota faleceu e pediu para que o caso fosse enfim solucionado. Com uma difícil missão investigativa, Palhares parte para a pequena cidade de Farol de São Bartolomeu, no Rio de Janeiro, para descobrir quem está por trás do cruel assassinato.

Véu do Diabo é o quarto livro do autor Celso Possas Junior que eu tenho a oportunidade de ler e, novamente, fico impressionada pela criatividade que o autor tem em todas as suas histórias. Apesar do título intrigante e talvez até meio polêmico, Possas Junior novamente nos faz embarcar numa história policial com muito mistério, pistas e suspense, dessa vez totalmente atual, passando-se ainda na segunda década do primeiro milênio. O livro, Véu do Diabo, nos traz uma história que retrata a questão de gênero, cada vez mais abordada e tão importante para a sociedade no momento.

"Ele falava que era algo que não tinha nome."
A obra já começa com um prólogo misterioso, especificamente, a cena do assassinato, três anos antes. O plano de fundo é a cachoeira nomeada de Véu do Diabo, na cidade fluminense de Farol de São Bartolomeu. Pesquisando pós-livro, descobri que tanto cidade, quanto cachoeira, são fictícias. Fato que me impressionou absurdamente, porque um dos pontos que me destacou durante a leitura foi o quão realista os cenários e acontecimentos eram. Possas Junior escreveu de forma tão crível que, para mim, foi como se ele descrevesse o que ele via e e as coisas que passava na cidade, transcrevendo posteriormente sob o olhar do personagem Palhares.

Junto a isso, temos uma narrativa bem rápida e versátil, que vai direto ao ponto, às vezes com uma linguagem mais pesada. Apesar de as descrições serem um tanto realistas, elas não recheiam tanto o livro, que possui muitos diálogos. Portanto, o autor consegue acertar em fazer ambas as coisas na medida certa, tanto quanto descrever pouco, mas muito bem, quanto nos diálogos, que deixam o leitor a par de quase tudo - exceto que quem é o assassino, é claro.
Porém, dada a rapidez da trama, algumas passagens soaram-me confusas. Onde, por exemplo, em um momento de descrição há o almoço chegando, e, algumas falas depois, numa outra descrição, os personagens já estão saboreando a sobremesa. O livro também é narrado em terceira pessoa, mas focado na maior parte no detetive, o protagonista. Algumas poucas vezes, contudo, repentinamente o foco da narrativa mudava, necessitando atenção para se perceber quem era o personagem no momento.

Há inúmeros personagens na trama, de praxe de um livro do gênero, já que são muitos os personagens que Palhares precisa abordar. Ainda assim, há aquele grupo mais retratado, que aparecem com bastante frequência. Particularmente, eu senti falta de um pouquinho mais de aproveitamento de alguns personagens que aparecem com mais frequência, como Beatriz e Rossato, sobretudo no final. Mesmo assim, isso não foi algo que prejudicou a leitura, já que é difícil que todos possam ser aproveitados ao máximo em um suspense policial curto.

Por se tratar de suspense policial, obviamente há mistério, ótimo, por sinal. Só é possível ter uma ideia de quem é se prestar bastante atenção as cenas e, mesmo assim, a incerteza de acerto permanece até os últimos capítulos, quando tudo é revelado. O assassinato também é por um motivo bem legal e até mesmo diferente, junto da crueldade pelo fato de Vivi ter nascido Ernesto.

Portanto, Véu do Diabose mostra um ótimo livro do gênero, com uma narrativa ágil, história intrigante e cenários deslumbrantes, com leitura rápida e muito proveitosa para todos os leitores.

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