Resenha: O Fundo é apenas o começo - Neal Shusterman



Editora: Valentina
Tradutora: Heloísa Leal
Ilustrador: Brendan Shusterman
272 páginas
2018

Outras resenhas do autor:
Fragmentados

Uma poderosa jornada da mente humana, um mergulho profundo nas águas da doença mental.
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CADEN BOSCH está a bordo de um navio que ruma ao ponto mais remoto da Terra: Challenger Deep, uma depressão marinha situada a sudoeste da Fossa das Marianas.
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CADEN BOSCH é um aluno brilhante do ensino médio, cujos amigos estão começando a notar seu comportamento estranho.
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CADEN BOSCH é designado o artista de plantão do navio, para documentar a viagem com desenhos.
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CADEN BOSCH finge entrar para a equipe de corrida da escola, mas na verdade passa os dias caminhando quilômetros, absorto em pensamentos.
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CADEN BOSCH está dividido entre sua lealdade ao capitão e a tentação de se amotinar.
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CADEN BOSCH está dilacerado.

*Sinopse original

"O que vejo quando fecho os olhos? Às vezes, uma escuridão que ultrapassa tudo que sou capaz de descrever. Ela pode ser gloriosa ou aterrorizante, e raramente sei qual das duas vou encontrar."

Doença mental não é um tema sobre o qual eu costumo ler com frequência, na verdade acho que é raro eu ler algo voltado para esse assunto. Assim, escolhi solicitar "O Fundo é apenas o começo" mais por causa do autor, cujos livros eu adoro, do que pela história em si e não poderia ter feito uma aposta melhor.

Caden Bosch é um adolescente normal. Com 15 anos, ele se divide entre a escola, criar jogos de RPG com os amigos, sua família e navegar a bordo de um navio pirata enquanto tenta completar a sua missão de chegar ao ponto mais profundo da Terra, o Challenger Deep. Em meio a isso, sua cabeça está tão recheada de inseguranças e medos que ele não sabe mais o que é realidade ou imaginação. Seriam esses seus pais de verdade? Sua irmãzinha está realmente segura? E se tiver alguém querendo matá-lo? Como confiar nas coisas que vê?

Cada vez mais tenho tido o prazer de me deparar com títulos, escritos em especial para o público jovem, que entram na nada singela categoria "O Mundo Deveria Ler Esse Livro" por conta do que eles passam através da sua história e esse, mais do que merecidamente, faz parte dessa categoria. Através da esquizofrenia, bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo, Shusterman mostra o quanto a mente humana é delicada e o quanto pode ser frágil conforme nos faz imergir nos pensamentos do seu personagem. É uma viagem muito profunda e confusa mas, acima de tudo, comovente e também um grande alerta necessário para a importância de se tratar os transtornos da mente com seriedade.

Narrado em primeira pessoa e com capítulos alternados entre a vida a bordo do navio e a vida real, a trama tem um início bastante lento e até mesmo confuso mas isso se explica pelo fato de que nem o próprio protagonista sabe o que está acontecendo em sua mente. Embora isso tenha feito a leitura demorar a deslanchar - até mesmo se arrastar já que a nossa confusão espelha a de Caden ao não sabermos que diabos está acontecendo nesse livro - lá quase pela metade ficou difícil desgrudar dos capítulos curtinhos (que são bem curtinhos mesmo) e não devorar cada página até o fim.

Uma curiosidade interessante dos bastidores é que o autor decidiu escrever sobre o tema após ter visto um de seus filhos - que inclusive ilustra o livro com desenhos feitos em seu período de crise, por assim dizer - vivenciar a mesma situação, onde se perdeu na fronteira que divide realidade e ilusão. Muito do que há nas páginas foi baseado nos relatos do filho do autor sobre como ele se sentia em diversos momentos, inclusive enquanto esteve internado. Essa informação está disponível ao fim do livro e só aumenta a carga de emoção que ele possui e que já era bastante grande.

É difícil acompanhar a jornada de Caden, tanto a no mundo real quanto a do navio, principalmente na altura de sua internação. Sua mente está fechada em si que mal percebemos como se dá o momento em que seus pais percebem seu estado. Mas Neal soube, mesmo pelas palavras de um jovem de 15 anos, traduzir de forma muito entendível e com diversas metáforas profundas o que seria, o que é, o mundo de uma pessoa com algum tipo de transtorno mental. É uma leitura forte, que provoca extremas reflexões e emoções e que exatamente por isso se faz mais do que necessária na trilha de quem tenta compreender ou ao menos saber mais sobre os complexos caminhos pelos quais a nossa mente pode nos levar.

Sobre doenças mentais e seus tratamentos:

Esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão...seja qual for a doença ou o transtorno mental há tratamento e muitas vezes gratuito ou de baixo custo. Procure os hospitais públicos de sua cidade e se informe!
Em Niterói - RJ, nossa cidade, é possível encontrar atendimento no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba que além do atendimento marcado através do SUS possui emergência psiquiátrica 24 horas.

Endereço: Av. Quintino Bocaiúva, s/n - Charitas
Tel: 2714-8856; 2710-0663; 2610-7678

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