Resenha - O Sol na Cabeça - Geovani Martins


Editora: Companhia das Letras
120 páginas
2018

Numa sequência de 13 contos, Geovani Martins mostra a infância e a adolescência de meninos que desde cedo convivem com as dificuldades de se viver em meio à violência do lado menos favorecido do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.
Do abuso policial nas praias da zona sul em nome do fim dos arrastões ao encontro de jovens com a mira de fuzis dos traficantes locais, a realidade dura é exposta em cores vivas e sem negligências.

"As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se compararmos a outras favelas da Zona Norte, Oeste, Baixada. [...] O que pouco se fala é que, diferente das outras favelas, o abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto na Zona Sul é muito mais profundo."

Uma grande aposta da editora, "O Sol na Cabeça" é um livro que, confesso, não me chamaria muita atenção na livraria mas fiquei feliz de ter recebido esse livrinho pequeno de tamanho mas enorme em seu conteúdo pois, se a pretensão do autor era fazer um retrato do cara comum da favela, ele acertou em cheio nos mostrando o morador comum que tem medo tanto dos bandidos quanto da polícia e que vive naquela margem social que conhecemos muito bem, seja de ver nos jornais ou na vida real.


Geovani consegue transitar com grande destreza entre uma linguagem mais pesada, repleta de gírias - algumas que nem conheço - e outra que vai para o lado mais sensível e poético da escrita, isso de um conto para o outro. Com temas bem densos, ficou um pouco difícil devorar um conto atrás do outro pois uma pausa reflexiva se fazia necessária a cada final, uma vez que há uma grande diversidade de emoções passadas.

Como moradora de uma comunidade, foi impossível não reconhecer através dos contos muitas similaridades entre o local onde moro e as comunidades em que os protagonistas moram e até mesmo alguma similaridade com certas coisas do cotidiano. Acredito que "O Sol na Cabeça" é uma oportunidade de imergir numa realidade mais do que presente por toda a cidade.

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