Resenha: Sob a Capa Vermelha - Mariana Vitória

Editora: Galera Record
2018
362 páginas

Vencedor do concurso Sua história nos 10 anos da Galera traz uma jornada sombria inspirada em A Chapeuzinho Vermelho.

Norina sempre temeu os Indomados, mesmo nunca tendo visto um deles. Criada em um casebre por toda sua vida, a garota os imaginava como monstros, tomados por sua besta interior e abandonados pelos Doze Deuses. Até o dia que sua mãe adotiva, Ros, conta a menina que ela é um deles. Desde então, as cinzas das Domas, rituais onde os Indomados são queimados, são um lembrete constante do perigo que ela e sua mãe correm. A garota precisa continuar escondida. Viira, a Rainha imortal e filha dos Doze Deuses, tem outros planos para Norina e a envolve em uma trama para conquistar Gizamyr, reino dos homens-lobo. Com a mãe em uma masmorra, Norina não tem outra escolha a não ser embarcar para o país inimigo, com a capa vermelha da falecida princesa Mirah, esperando que o plano elaborado pela Rainha funcione. A garota então precisa atravessar um mundo que ela achou que nunca veria, onde aqueles como ela são odiados e mortos todos os dias. Entre ser tratada como escória pelos cavaleiros de Viira e interpretar uma princesa em um delicado jogo diplomático, Norina vai descobrir que abraçar a si mesma pode não ser a escolha mais fácil, mas algumas vezes é a única possível.
*Sinopse original

“O fogo dela ardia e o medo pulsava intensamente em seu peito, mas Mirah sentia-se forte como nunca – o lobo dentro dela nunca estivera tão vivo.”

Ao longo da minha vida de leitora já escolhi muitos livros por motivos aleatórios que nada tinham a ver com a história, como ter achado a capa linda e foi por essa razão que eu escolhi solicitar esse livro. Mas, bem mais do que uma belíssima ilustração de capa, "Sob a Capa Vermelha" é uma boa surpresa da literatura nacional.

Norina é uma indomada e no reino onde ela mora, Tergaron, ser um indomável e carregar um lobo dentro de si é algo imperdoável e punível com a morte. Por isso, na tentativa de mantê-la a salvo, sua mãe nunca a deixou sair do casebre onde ambas vivem no mais absoluto silêncio, até que um dia Norina acorda e não a encontra. O mais lógico para a menina é esperar que ela retorne, mas quando sua ligação com a mãe aflora um de seus poderes e permite que ela veja dentro de sua mente, Nor - como é chamada - vê que na verdade sua mãe foi levada pela Rainha das Rainhas, comandante de Tergaron, e somente cooperar com seus planos e fazer o que ela quer poder manter sua amada mãe viva.


Levemente inspirado em A Chapeuzinho Vermelho, "Sob a Capa Vermelha" traz uma história de lobisomens e deuses em meio a uma mitologia bastante diferente das que já vi e cheia de elementos que contribuem para o misticismo da trama, o que é um grande ponto positivo para o gênero ao qual pertence. Rico e bem desenvolvido, o enredo é repleto de reviravoltas; algumas previsíveis, outras chocantes mas todas bem elaboradas, embora o desfecho tenha se dado de forma um pouco corrida.

Diferente do que costuma-se ver nos livros de fantasia o foco aqui é no amor entre mãe e filha, que é uma das rodas que faz a trama girar. Foi bonito ver todo o amor e lealdade que permeia a relação de Norina e sua mãe e até mesmo o amor, embora meio distante, da Rainha das Rainhas pela sua filha. Tais sentimentos foram muio bem exibidos pela autora, que conseguiu trazer autenticidade à maioria de seus personagens através de sua narrativa ágil, intrigante e detalhista na medida certa ao trazer não somente o ponto de vista da protagonista mas também de outros personagens que são importantes para a sua jornada. Por falar nos personagens, há uma boa gama de diversidade no livro e isso foi algo muito agradável de se ver, além disso os personagens em sua maioria possuem personalidades bastante distintas e esse detalhe foi bastante crucial para ajudar a me prender. Temos de Norina, a menina frágil mas ao mesmo tempo forte que aceita humilhações de todos sem reclamar (o que me fez ficar muito fula com a maioria dos personagens na maior parte do livro), à Viira, a Rainha das Rainhas que possui uma história fascinante e conseguiu me surpreender diversas vezes.

Embora novata no ramo, Mariana conseguiu criar uma fantasia eletrizante que prende desde as primeiras páginas, principalmente pela sua mitologia original que causa encantamento. Embora com uma ou outra falha, como algumas mortes que ao meu ver poderiam ter sido evitadas e afins, a autora mostrou que a fantasia nacional está mais do que viva e com um belo futuro pela frente.