Resenha: Memórias de uma Gueixa - Arthur Golden

Editora Arqueiro

Tradutora: Lya Luft

460 páginas

2015

Em Memórias de uma Gueixa somos levados às mais profundas lembranças de uma antiga gueixa extremamente famosa no Japão, Nitta Sayuri. Desde que foi vendida, aos 9 anos, a garota sofreu muito. Felizmente, sua vida muda e ela consegue tornar-se aprendiz de gueixa, virando a “irmã mais nova” de uma das gueixas mais famosas do Japão na época. Sobe na vida tornando-se muito famosa, mas ao mesmo tempo, a segunda guerra mundial atinge seu pior período, e todos os locais para gueixas são fechados. Esse é um relato de como era a vida das gueixas no século XX.

“Essa coisinha linda é Sayuri de Gion, que provavelmente um dia será a grande Sayuri de Gion. Vocês nunca mais verão olhos iguais aos dela, eu lhes garanto. E esperem para ver o modo como se movimenta...”

Memórias de Uma Gueixa é um livro narrado no Japão, mais precisamente em Kioto, mais ou menos em 1929. Chiyo é uma garota de nove anos que acaba de ser vendida para um Okiya, local onde vivem gueixas. Conta a trajetória da menina, no livro, narrado por ela já idosa, para conseguir ultrapassar as dificuldades e tornar-se Sayuri, a Gueixa. Possui uma narrativa simples, mas não inteiramente delicada. Retrata detalhadamente o dia a dia da ainda criança, mas de forma seca, sem um tom de emoção, o que acaba parecendo não um romance, mas um manual para se tornar uma gueixa. Entretanto, o ritmo melhora com o passar do livro e a narrativa torna-se mais suave e madura conforme Sayuri vai crescendo.


Um aspecto positivo é que todos os personagens, principalmente as gueixas são muito bem construídas. Todas possuem personalidades diferentes e caráter diferentes. É impossível não rir com uma delas ou então ter vontade de esbofetear uma na cara. Acredito que é essa interação e essas vontades que tornam um personagem bem contruído, fazendo-o parecer real.
Mas Golden peca ao tratar das gueixas como basicamente, prostitutas. Ele se utiliza de uma conotação extremamente sexual, ao longo de todo o livro. Gueixas são artistas, elas aprendem e trabalham vendendo sua arte, entretendo as pessoas, e acabou me incomodando muito que tudo o que elas façam seja resumido em agradar a homens e sexo.
Apesar disso, o autor também conseguiu explicar muito bem os outros aspectos de uma gueixa. Qual é o dia a dia, o que elas fazem durante o dia, como é o processo de arrumação para sair a noite. É um universo apaixonante para quem tem interesse no assunto, e ele soube explorar muito bem esses detalhes, além de ser interessantíssmo ler sobre a cultura japonesa a partir do século 20 e seus aspectos históricos, como ter uma pequena noção de como a segunda guerra mundial afetou a vida deles.

Em minha opinião, o final deixa a desejar. Uma parte importante o suficiente para estar na sinopse do livro, a Segunda Guerra Mundial, é mostrada com pouquíssimas cenas e pouca atenção dada. O final de Sayuri foi forçado, ao menos em questões amorosas e foi realmente frustrante ver que uma mulher forte como ela, uma gueixa, pode submeter-se de tal maneira a homens. Entretanto, não posso afirmar que isso é um ponto negativo, já que infelizmente vemos tanto por aí na vida real. Tirando a questão amorosa de Sayuri, gostei do resto do que acontece com ela, mas senti falta de um final concreto, como o que aconteceu com Abóbora, por exemplo. Outros personagens também têm seus fins cravados na medida do possível, o que é um ponto positivo.

Para quem não sabe, o autor entrevistou uma Gueixa verdadeira para se basear na criação de Sayuri. Ela conta a própria história no livro Minha Vida Como Gueixa, após processar Golden. Acredito que seja uma ótima leitura complementar para Memórias de uma Gueixa.
Resumindo, a obra tem uma boa história, mas poderia ser bem melhor, com mais cuidado a detalhes. Recomento como um romance, mas recomendo Minha Vida Como Gueixa para os que quiserem saber tecnicamente sobre esse mundo.

10 comentários:

  1. Adorei a resenha! Nem me lembro quando li esse livro, acho que foi no ano passado ou retrasado, mas gostei muito, muito mesmo!

    Se puder, dê uma passada no meu blog, agradecerei muito:

    Leitora Compulsiva
    http://olhoscastanhostambemtemoseufascinio.blogspot.com.br

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  2. Muito interessante! Lembro de ter ficado bem curiosa com esse livro quando foi lançado, mas até hoje nunca li. Sua resenha me deu mais vontade de conhecer.

    http://loucura-por-leituras.blogspot.com.br/

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  3. Olá Camila, tudo bem?

    Sua resenha foi bastante pessoal, e você parece não ter gostado do livro porque ele coloca a mulher numa posição submissa e transforma as gueixas em prostitutas.
    Tem que levar em consideração que a cultura japonesa, e oriental de uma forma geral, tem essa característica, as mulheres servem aos homens. Mesmo sendo mulheres fortes elas são submissas por questões culturais e no passado, não eram respeitadas, muito menos eram livres. Nessa história, a Sayuri faz muitas coisas que uma mulher e uma gueixa nunca pensariam em fazer. Isso que faz com que você a classifique como uma mulher forte, na época, era considerada uma mulher louca. Culturalmente falando.
    Eu a considero uma mulher corajosa e também forte.

    Bom saber sobre o livro Minha Vida como Gueixa, eu não conhecia.

    No mais, parabéns pelo blog e continue a escrever! `^^´
    Abraços!

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  4. @Allan Lucena
    Oi, Allan! Tudo bom e com você?
    Primeiramente, agradeço o comentário! Sim, minha resenha foi bem pessoal, mas a fiz considerando o relato da Mineko iwasaki, a gueixa que Golden se inspirou e que escreveu o Minha Vida Como Gueixa. Ela é um pouco mais nova que a Sayuri, mas ainda dos anos 50, e ela mesma menciona que as gueixas não são prostitutas. Elas servem para entreter, homens ou mulheres, com sua arte. É claro que nessa época, como até hoje no Jp, as mulheres ainda são submissas aos homens, mas o que ela critica e o que eu critico, é que o autor não fez distinção entre as gueixas e as prostitutas (apesar de ele colocar a irmã da Sayuri como uma).
    Mineko foi uma das gueixas mais famosas existentes, e ela não precisou ser como a Sayuri para ser famosa. O ritual da virgindade? Era proibido já na época de Memórias de uma Gueixa.
    Resumindo, o que eu quis dizer com a resenha, é que por mais que Arthur tenha detalhado esse mundo, ele falhou em muitas coisas.

    Peço desculpas se a resenha não te agradou!

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  5. @Lethycia Dias
    Oi, Lethycia! Leia sim, no geral é um livro bom!
    Obrigada pelo comentário, beijos.

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  6. @Andrea Morais
    Obrigada pelo conentário!
    Passarei sim, beijos.

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  7. Olá, Camila, tudo bem?

    Caramba tem bastante informações sobre as gueixas no livro, lembro de visto uma reportagem na televisão sobre uma gueixa muito famosa mas não me lembro do nome dela! Eles são bastante exigentes não é? Lembro que fazia varias funções e falava diversas lindas e tinha aula de etiqueta e etc apesar de ter achado interessante quando a reportagem como a resenha não faz meu gênero, a premissa não me conquistou a ponto de ler o livro! Mas achei bastante interessante e fico feliz que você tenha gostado! A cultura deles e interessante mais eu não gostaria de ser uma HAHAHAHAHA

    Beijinhos

    Resenha atual

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  8. Eu já assisti ao filme que é excelente por sinal. Mas, ainda não tive a oportunidade de ler o livro. Pelo que me lembro, uma garota foi vendida e a nova familia enviou-a para uma escola e ser uma gueixa. Não me lembro direito, mas acho que ela arrumou vários inimigos em sua busca pelo amor. Tomara que o livro seja tão bom quanto o filme.

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  9. @Resenha Atual
    Acho a cultura maravilhosa! Vale a pena ler. Pena que não gosto! Hehe
    Beijos!

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  10. @Maristela G Rezende
    Oi, Maristela!
    Ainda não vi o filme, preciso ler logo!
    Provavelmente tem diferenças, mas todo mundo elogia o filme!
    Obrigada pelo comentário, beijos.

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