Resenha: Um Tom Mais Escuro de Magia - V. E. Schwab

Editora Record

Tradutora: Ana Carolina Delmas

420 páginas

2016

Outras resenhas da autora: A Guardiã de Histórias.

Kell é um Antari – pessoas que tem a magia totalmente aflorada, o que permite que ele viaje entre universos paralelos e conecte quatro Londres existentes, a Vermelha (de onde ele vem), a Branca, a Cinza e a Preta. Sobre a Preta, ninguém fala. E quando, em uma viagem à Londres Branca ele resolve continuar seus trabalhos de contrabandista e recebe um artefato perigoso, ele verá de perto os piores aspectos da magia. Com a ajuda de Lila, uma ladra que ele conhece na Londres Cinza, eles precisarão lutar por suas vidas e enfrentar uma força há muito esquecida.

Gostaria de iniciar essa resenha comentando que quando a contra capa de um livro vem com opiniões de jornais e escritores famosos, eu nunca leio, porque normalmente não me influencia.

Dito isso, desde o início, Um Tom Mais Escuro de Magia se assemelhou, para mim, ao livro O Castelo Animado, de Diana Wynne Jones. Não por ter cenas parecidas (pelo contrário, nenhuma cena me lembrou o livro de Wynne Jones), mas porque o livro de V. E. Schwab me transportou e me fez ter as mesmas sensações e alegria na leitura. E qual foi a minha surpresa ao parar na metade da leitura para ler as opiniões e ver que um jornal a compara à autora de O Castelo Animado?

“A magia transformava o mundo. Mudava a sua forma. Havia pontos fixos. Na maior parte do tempo, esses pontos eram lugares. Mas, às vezes, raramente, eram pessoas.”

Minha primeira experiência com a autora foi meio decepcionante (para quem não sabe, ela é autora da trilogia de A Guardiã de Histórias), então estava temerosa em começar este livro. Felizmente, Um Tom Mais Escuro de Magia é muito diferente e, em minha opinião, bem superior.

A autora tem uma narrativa mais direta ao ponto, sem páginas para “encher linguiça”, ainda que seja bem descritiva e cheia de reflexões dos personagens. Não foi incomum haver muitas páginas sem diálogos, apenas com as cenas narradas e tormentos dos personagens. Particularmente o estilo me agradou bastante porque mesmo nas páginas mais calmas, a história não foi monótona, mas creio que possa tornar-se cansativo para alguns.

Ainda que não haja uma delimitação de época, pelos costumes narrados pode-se percebe que não é uma história narrada na atualidade, e sim, em Londres mais antigas (refiro-me no plural por se tratarem de 4 na obra). Além disso, todo o conceito das 4 cidades em universos paralelos é bem interessante, e há o cuidado de diferenciar  e ter conceitos históricos, sociais e geográficos para todas elas, bem sobre como é a magia nos 4 lugares.

V. E. Schwab também aborda assuntos importantes de forma sutil, no que se refere a personagem Lila, desde violência de várias formas, ao abandono para que vivesse sozinha na cidade.

O que mais senti falta foi de um aprofundamento sobre a Londres Preta. Pela história central, mostra-se sobre como ela é evitada pelas outras 3 e o porquê, mas como ela é importante ao longo da plot, achei que fosse haver mais cenas relacionadas a ela.

Ainda assim, creio que para mim, a melhor parte tenha sido os personagens. Kell foi para mim, um dos melhores personagens que conheci nos últimos tempos. Ele é o protagonista, e é muito complexo e difícil de definir. Há do bom e do ruim nele, bem como em Lila e em Holland, o outro Antari existente. Portanto, eu diria que Schwab não criou vilões e mocinhos – excetuando alguns – e cabe ao leitor definir se gosta deles ou não. Seus passados, motivações e personalidades são complexas, o que acrescentou e trouxe qualidade a trama. Confesso que não shippei Kell e Lila porque vi a relação deles muito mais como amizade, já que o romance não é levado “a sério” na trama.

Para quem gosta de tramas fechadas, esse livro é uma ótima pedida. Apesar de ser uma trilogia, esse livro termina sem ganchos para um próximo volume, mesmo que deixe um futuro em aberto para os personagens. Toda a história central do primeiro livro é concluída e confesso que até fiquei sem entender o porquê de continuações, já que funcionaria muito bem se fosse obra única.

Ainda assim, aguardo ansiosamente Um Encontro de Sombras, principalmente após ler a sinopse. Um Tom Mais Escuro de Magia é a pedida ideal para quem gosta do tema de uma forma mais convencional, sem apelar muito para o romance e sem que seja encontrado apenas em fantasias com seres encantados ou livos de bruxas.

Sobre a trilogia:

Um Tom Mais Escuro de Magia é o primeiro livro da trilogia Tons de Magia. Um Encontro de Sombras, o segundo volume, será lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2017.