Resenha: Pequenas Grandes Mentiras - Liane Moriarty

Editora: Intrínseca
Tradutora: Adalgisa Campos da Silva

400 páginas

2015

O livro começa no concurso de perguntas para os pais no colégio, onde alguém acaba morrendo. Volta então para 6 meses antes, para mostrar como foi o desenrolar até chegar no trágico dia. Jane é mãe solteira de Ziggy e acaba de se mudar para a cidade litorânea de Perriwee. No dia de orientação escolar do filho, ela conhece a autêntica Madeline, mãe da pequena Chloe, e a esplendorosa Celeste, mãe dos gêmeos Max e Josh. Mas logo no primeiro dia, Ziggy é acusado de praticar bullying com outras crianças, o que torna a vida de mãe e filho bem complicada, já que muitos pais passam a evitá-los.

Eu tenho esse livro desde maio, mas estava bem desanimada com a ideia de lê-lo. Não era grande fã da sinopse e cheguei a ler o primeiro capítulo uma vez, mas parei de ler. Como ele estava em minha meta de leitura, resolvi dar uma nova chance, e fico feliz que isso tenha acontecido.

Pequenas Grandes Mentiras tem um suspense bem forte do início ao fim, que é sobre quem morreu. A princípio, nas primeiras páginas, só sabemos que alguém morreu, mas só nas últimas páginas tomamos conhecimento de quem, o que me fez ler de modo frenético. Eu não adivinhei de modo algum, descobrindo apenas ao chegar na revelação de fato. Mas depois de revelado, eu só conseguia pensar de forma boba “Como não adivinhei antes?”. É sim difícil acertar o que acontece ao longo da história, mas após a revelação, percebi que fazia total sentido e que a autora plantou pequenas pistas em inúmeros momentos.

Liane criou personagens complexos e realistas demais. Pode-se facilmente imaginá-los como pessoas próximas ao leitor, imaginá-los sendo seus vizinhos. A mãe que cria sozinha o filho, a perua que tem um coração boníssimo, a mulher que parece ter tudo para uma vida perfeita – mas que está longe demais. Ao terminar o livro, sei que sentirei muita falta de várias personagens da obra, apesar de outros parecerem ser bem esteriotipados, e até mesmo ligeiramente forçados, como é o caso de Renata, suas amigas e da professoras das crianças, o que acabou não enriquecendo a gama de personagens existentes.

“E se eu estivesse um pouco acima do peso e não fosse especialmente bonita? Por que isso é tão terrível? Tão repulsivo? Por que é o fim do mundo? É porque toda a autoestima de uma mulher é baseada em sua aparência. A gente vive em uma sociedade obcecada pela beleza, na qual a coisa mais importante que a mulher pode fazer é ser atraente para o homem.”

Entretanto, a história se arrasta bastante, com muitas partes monótonas. A escrita de Moriarty é muito boa e rica, mas ela dá muita atenção a detalhes que não são exatamente importantes para a trama. Os pontos positivos da narrativa foram de fato a escrita e como a história volta seis meses antes para então se desenrolar, desconstruindo o dia da morte de uma das pessoas. O ambiente também é rico em detalhes, e bem diferenciados, já que a sequência de cenas dificilmente eram em um mesmo lugar.

Para finalizar, a obra tem uma mensagem muito forte. Há inúmeras passagens chocantes que a autora cria, acredito eu, para chamar a atenção para assuntos que são pouco abordados, seja pela mídia ou pelas próprias pessoas. As cenas mais fortes são com certeza, as de violência doméstica, que deixou-me nauseada e parando de ler para respirar. Liane aborda os assuntos de forma muito clara e concisa, mostrando que bullying e violência doméstica são coisas sérias. Ela não enrola e indiretamente, dá dicas de como agir diante de tal situação.

Pequenas Grandes Mentiras é uma obra muito recomendada porque há muito mais por trás da aparente leveza na leitura.